Giro fiscal, de 22 a 28 de outubro

Giro fiscal, de 22 a 28 de outubro

28/10/2019

A agenda pós-Previdência tem foco nos gastos e a reforma tributária vai mesmo ficar para 2020 e, se depende do governo, pode ser bem simplificada. Pelo noticiário, um trio ou um quarteto de PECs vem por aí compondo o que o governo chama de pacto federativo. Ela inclui desvinculação de receitas, novas regras para o teto de gastos, o Conselho Fiscal da República e a reforma administrativa.  Boa leitura!

Reforma do gasto
A agenda do governo pós-Previdência vai ficar mesmo concentrada nos gastos. Um trio de PECs está sendo preparado dentro do que o governo chama de pacto federativo. Quem primeiro adiantou o assunto foi a Folha, informando na quinta-feira que elas focam no teto de gastos, criação do Conselho Fiscal da República e em uma revisão dos fundos constitucionais.  Uma quarta PEC deve ser a da reforma administrativa. Nos gastos, uma das propostas em discussão na equipe é acabar com os pisos para educação e saúde em todas as esferas de governo Já sabendo que será polêmico e haverá resistência, há quem defenda, dentro da equipe, a  alternativa e fazer um piso único para as duas áreas. Na sexta, o Valor trouxe mais detalhes dessa PEC do pacto federativo, informando que a desvinculação envolve 280 fundos setoriais (mas não alcançaria os constitucionais)  e o governo calcula desindexar R$ 50 bilhões. De acordo com Mansueto de Almeida, o governo vai criar um “estado de emergência fiscal”, que permite acionar automaticamente medidas de redução de gastos. No Senado, líderes partidários avisam que a pauta só vai andar após liberação de recursos, enquanto Rodrigo Maia confirmou que essa é agenda prioritária agora. Como ressaltou Miriam Leitão, o governo vai precisar de mais foco nessa agenda pois “sobre essas novas frentes de mudanças, não há o mesmo grau de amadurecimento do debate que havia na alteração das pensões e aposentadorias”.

Reforma administrativa
Entre as propostas para a reforma administrativa, está a ampliação do atual estágio probatório de 3 para 10 anos. Só depois desse período, os novos servidores teriam estabilidade. Para os atuais, a estabilidade não muda. Outra ideia em debate é reduzir o total de carreiras para 10.

Reforma tributária
Ao longo da semana que passou, a reforma tributária foi sendo quase oficialmente postergada para 2020. Câmara e Senado não se acertam na formação da comissão mista que trataria do assunto, enquanto o secretário da especial de Previdência e Trabalho, Rogerio Marinho, apresentou uma versão desidratada da reforma Tributária. “O que está acertado hoje é a consolidação e a simplificação do PIS-Cofins”, disse ele, marcado 9 ou 10 de novembro como nova data para a proposta do governo chegar ao Congresso. Em artigo na Folha, o relator da PEC que está no Senado, Roberto Rocha, defendeu uma reforma que possa expandir a classe média. Falou em aliviar a tributação sobre a pequena propriedade, como carro popular. Em artigo no Valor, Ernesto Lozardo e Melina Lucic  defenderam os benefícios de um IVA Dual, proposta que há tempos é encampada por alguns técnicos do Ipea.

Orçamento
Os recursos do megaleilão do pré-sal, marcado para 6 de novembro, alteram os resultados primários de 2019 e 2020. São R$ 24 bilhões extras que entram em cada ano. Para 2020, por enquanto, a equipe econômica não pretende propor alteração na meta, informou Ribamar Oliveira. A proposta de ajuste para 2020 prevê elevar os gastos de custeio da máquina pública e de investimentos para um patamar superior a R$ 100 bilhões, cerca de R$ 11 bilhões acima da proposta enviada. Neste blog, você confere o histórico de despesas e receitas do governo federal. E, nas contas do Tesouro, os gastos com juros para efeito da regra de ouro foram reduzidos de R$ 415 bilhões para R$ 340 bilhões em 2020, ainda um valor recorde. Depois, começa recuar.  E para 2019, virão mais R$ 4,6 bilhões do BNDES

Estados
O RS apresentou um programa de ajuste fiscal  programa de ajuste fiscal com impacto superior a R$ 60 bilhões para aderir ao programa de socorro federal. A proposta não inclui a venda do Banrisul. O RS é um, entre seis Estados, que romperam o limite de gastos com pessoal até agosto. O DF discute medidas para gerar folga de  R$ 5 bilhões  no orçamento de 2020. As medidas incluem venda de imóveis abertura de capital de empresas e refis. E Paulo Guedes planeja premiar Estados que fizerem o ajuste fiscal mais rápido. Parte dessas medidas podem estar na Lei de Responsabilidade Previdenciária que o governo prepara. Entre as ideias, está incluir uma nota de classificação previdenciária.

Previdência
A proposta foi aprovada em segunda votação no Senado, com impacto final estimado em R$ 800 bilhões em dez anos. Vários jornais trouxeram matérias de serviço sobre o impacto. Mas nas contas do IFI, a economia será de R$ 630 bilhões em 10 anos. Na Folha, uma calculadora permite ao leitor identificar se e quando será atingido. O Globo também fez um material especial dimensionando os impactos sobre diferentes trabalhadores. No O Globo, Fabio Giambiagi lembrou que a aprovação foi muito importante, não pode ser vista como abertura da temporada de bondades. “Agora, chegou a vez de substituir a agenda previdenciária pela fiscal”, defendeu. Enquanto isso o projeto da reforma da Previdência dos militares foi aprovada na comissão da Câmara que discute o assunto. Como tem caráter  conclusivo, após os destaques, seguirá direto para o Senado, sem passar pelo plenário. E os militares de patente mais rasa receberam uma bonificação extra. Mas o assunto já divide a base bolsonarista.

Drops fiscais

Ajuda dos juros - O debate sobre a ajuda que juros menores, reforma da Previdência e pré-sal, além de um pouco mais de PIB, darão para a trajetória da relação dívida/PIB continua. Dados do IFI reforçam estimativas já apresentadas por Manoel Pires no Valor, quando ele apontou os sinais de que o período de desequilíbrio fiscal parece ter ficado para trás.

Salário mínimo - Pedro Fernando Nery discute o valor do salário mínimo no Brasil e levanta a tese de que o custo de cerca de R$ 2 mil para o empregador talvez seja alto demais como contrapartida da produtividade de um jovem que saiu de um sistema educacional falido.

Lei de informática As mudanças exigidas pela OMC ainda não têm uma definição. Além do conjunto de benefícios a serem mantidos e/ou alterados, há divergências sobre direito de novos entrantes. Além disso, o prazo, na prática, já não será cumprido pela exigência de noventena para as mudanças fiscais.

Privatização – Elena Landau propõe incluir todas as 637 estatais (controle e participação minoritária ou cruzada) no programa de privatização e deixar o Congresso definir qual é relevante ou necessária à segurança, como previsto na Constituição.

Gastos com servidores - Aba Carla Abraao discute “mitos e verdades” dos gastos públicos para defender a reforma administrativa em contraponto ao documento da frente parlamentar em defesa do serviço público.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

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