Gasto público teve impacto contracionista sobre o PIB no 1º semestre de 2025

Gasto público teve impacto contracionista sobre o PIB no 1º semestre de 2025

09/10/2025

O Tesouro Nacional publicou no dia 30 de setembro, o boletim “Estatísticas Fiscais do Governo Geral”, com informações até o 2º trimestre de 2025. A partir desses dados brutos, a equipe do Observatório de Política Fiscal do FGV IBRE realiza alguns tratamentos (R$ constantes e ajuste sazonal), de modo a facilitar a análise da evolução dos gastos públicos para os três níveis de governo. Essas séries podem ser acessadas a partir deste link.

Os números mais recentes apontam que os gastos do Governo Central Orçamentário (conceito que exclui algumas despesas da União que, na verdade, são transferências para os governos regionais, como o FCDF e o Fundeb, dentre algumas outras) subiram no 2º trimestre, após uma contenção relevante ao longo de 2024 e começo de 2025. Já no caso dos governos regionais como um todo, houve uma relativa estabilidade das despesas no 2º trimestre deste ano, após quedas relevantes no 4º trimestre de 2024 e no 1º de 2025.

A figura acima também chama a atenção para o fato de que o atual patamar de gastos dos governos regionais é significativamente superior, em cerca de 26%, ao nível médio observado no biênio pré pandemia (2018/2019). Já no caso do Governo Central Orçamentário, a variação nessa mesma base de comparação foi de pouco menos de +7%.

A partir desses dados recém-publicados é possível calcular o impulso fiscal do gasto público, levando em conta as estimativas de multiplicadores de Resende & Pires 2024, sintetizadas na tabela abaixo.

 

A figura a seguir apresenta essas estimativas de impulso fiscal do gasto, comparando-as com a variação absoluta do PIB total a preços de mercado.

 

Como pode ser notado, o impulso fiscal do gasto público foi bastante expressivo em 2022-24, não muito distante daquele observado em 2020 (ano em que foram adotadas diversas medidas de suporte às famílias e empresas por conta do choque negativo gerado pela pandemia). Os governos regionais, muitas vezes ignorados nas análises macroeconômicas, tiveram grande destaque nessa dinâmica do impulso fiscal em 2022-24. A variação absoluta do PIB nesse triênio foi bem próxima ao impulso fiscal do gasto, ressaltando a importância da condução da política fiscal nas surpresas positivas de crescimento do PIB brasileiro nesse período (para mais detalhes, ver post recente no blog do IBRE, aqui).

Já na primeira metade de 2025, houve uma forte inflexão, com o impulso fiscal do gasto passando a terreno negativo, sobretudo por conta dos governos regionais. Mesmo no caso do governo central orçamentário, o impulso, embora ainda em terreno positivo, foi bem pequeno.

Por fim, é importante notar que: i) o impulso fiscal do gasto pode ter efeitos defasados sobre o PIB, de modo que a comparação contemporânea entre esse impulso e o PIB, feita na figura acima, não é totalmente adequada para avaliar os impactos da execução dos gastos públicos sobre a dinâmica do PIB; e ii) a política fiscal também impacta o PIB por outros canais, como taxação e mesmo via efeitos da percepção de solvência fiscal sobre risco, juros longos e taxa de câmbio, os quais não estão considerados na análise acima.

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